Jamais perguntava ao paciente se dispunha ou não de recursos amoedados para pagá-lo. Simplesmente o atendia.
Estudioso e pesquisador, os anos lhe permitiram aprimorar a técnica cirúrgica e, com alegria, via-se a devolver a vista a cegos.
Seu mundo era a ciência, a família, e seus inumeráveis enfermos.
Uma de suas filhas se casou e se tornou mãe de uma linda menina. Os seus olhos eram formosíssimos e Raul se apaixonou pela neta. Sempre que possível, a tomava nos braços, saíam a passeio.
A menina, por sua vez, adorava o avô .
Certo dia, a garota adoeceu gravemente. A enfermidade lhe afetou os olhos. Raul não comia, nem dormia. Ficava ao lado da doentinha, enquanto devorava os livros, buscando uma forma de devolver a luz para os olhos que eram sua própria vida.
Sua habilidade conseguiu fazer com que ela voltasse a enxergar com um dos olhos. Mas o outro deslocou-se de sua órbita e ficou irremediavelmente perdido.
Raul pareceu enlouquecer.
Logo ele, que devolvera a vista a tantos, se via impotente ante a tragédia da neta.
Para que lhe servia a ciência? - Perguntava-se. Para nada.
Acabrunhado, principiou por negar a se alimentar. Alguns dias ainda se serviu de água. Depois, passou a recusá-la também.
Murmurava entre dentes: Já não sirvo para nada. E quando não se serve para nada, é melhor deixar o lugar para outro.
Morreu de fome. Orgulho e rebeldia o perderam. Uma vida tão cheia de bênçãos jogada fora.
O orgulho o cegou. Ao se ver impotente para resolver o problema da neta, seu desespero chegou a um grau superlativo.
Impossibilitado de servir a quem tanto amava, preferiu morrer. Não pôde suportar a ideia de sua pequenez, de seu poder limitado."
Texto: Nova Era
E agora eu lhe pergunto: pra quê tudo isso se viemos do mesmo pó?
Pra quê se perder na vida, sendo que é possível viver uma vida de amor puro e felicidade?
É. Eu lhe pergunto...
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